Roberto Jefferson
delatou esquema em 2004 e foi cassado em 2005.
Assessoria de ex-presidente afirmou que ele não irá se manifestar.
Assessoria de ex-presidente afirmou que ele não irá se manifestar.
Fabiano Costa, Mariana Oliveira e
Nathalia Passarinho Do G1, em Brasília
O advogado Luiz Francisco Corrêa Barbosa, defensor
do presidente do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson, disse nesta
segunda-feira (13) no Supremo Tribunal Federal, durante o oitavo dia do
julgamento do processo do mensalão, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva “ordenou” o esquema de compra de votos no Congresso.
Jefferson é o delator do esquema do mensalão. Na
época, em 2005, também era presidente do PTB. Foi acusado pelo Ministério
Público Federal de receber R$ 4,54 milhões do chamado "valerioduto"
[suposto esquema operado por Marcos Valério para abastecer o mensalão] a fim de
votar a favor do governo no Congresso como parte de um acordo de R$ 20 milhões
entre o PT e seu partido. Foi cassado pela Câmara em 2005.
Segundo o defensor, Lula é "mandante" do
esquema. A tese contraria afirmações anteriores do próprio Jefferson, segundo
as quais o ex-presidente é "inocente".
"O meu cliente aqui acusado tem dito e
reiterado aos quatro ventos o que já dissera, que o presidente não sabia. Não
há contradição. Ele tem de falar sobre aquilo que viu. Já eu tenho de iluminar
o caso", declarou o advogado.
Para Luiz Francisco Corrêa Barbosa, o ex-
presidente não é "um pateta" para que, na ocasião, não tivesse
conhecimento sobre o que ocorria no governo. O advogado cobrou do
procurador-geral da República a não-inclusão de Lula na denúncia.
“Disse o [PGR] que, entre as quatro paredes de um
palácio presidencial, estariam sendo celebradas tenebrosas transações. [...] É
claro que Vossa Excelência [procurador-geral] não poderia afirmar que o
presidente fosse um pateta. Que sob suas barbas isto estivesse acontecendo e
ele não sabia de nada. O presidente é safo. Não só é safo como também é doutor
honoris causa em algumas universidades. Mas é um pateta? É claro que não. Não só
sabia como ordenou o desencadeamento de tudo isso. Sim, ele ordenou. Aqueles
ministros eram apenas executivos dele. Recebida a denúncia, o PGR deixou o
patrão de fora. Por que fez isso? Vossa excelência é que tem de informar”,
disse o advogado, que falou por 40 minutos em defesa do cliente.
Procurada pelo G1, a assessoria do
Instituto Lula informou que o ex-presidente não assistiu ao julgamento e não se
manifestará sobre assunto. Logo após as denúncias, em agosto de 2005, Lula fez
pronunciamento em rede nacional, no qual se disse "traído". No começo
de 2006, em entrevista, disse que o epísódio foi uma "facada nas
costas".
Em outro momento da sustentação oral, o advogado de
Jefferson voltou a questionar a ausência de Lula entre os réus do mensalão.
“Como procurei demonstrar na evolução dos fatos,
este tribunal recebeu a denúncia de que três ministros de estado, auxiliares do
presidente, estariam pagando parlamentares para aprovar projetos de interesse
desse mesmo presidente, mas o presidente ficou fora.”
Segundo o advogado, “pela prova produzida [pelo
Ministério Público Federal], vai gerar um festival de absolvições. O mandante
está fora”.
Olho 'chegou a lacrimejar'
Segundo o advogado, Jefferson procurou integrantes do governo antes de avisar ao próprio Lula sobre o esquema.
“Em reunião de líderes disse: no meu partido, isso
não poderá ser feito. Se isso voltar a ocorrer, eu vou denunciar. Dirigiu-se
então ao então ministro Ciro Gomes e deu ciência desse fato. Foi também ao
ministro Miro Teixeira, mas isso continuava”, narrou o advogado.
Barbosa relatou então que, diante da falta de
providências, procurou o próprio Lula e que o olho do ex-presidente “chegou a
lacrimejar”.
“Então, ele [Jefferson] foi ao presidente da
República, Luiz Inácio Lula da Silva, e mediante testemunhas, Walfrido dos
Mares Guia, Arlindo Chinaglia, José Múcio, deu ciência ao presidente que isso
acontecia e que isso iria prejudicá-lo. O olho [de Lula] chegou a lacrimejar
diante dessa informação e prometeu tomar providências. O líder do PTB estava
dando notícia de crime ao presidente da República”, disse o advogado.
Recursos do PT
O advogado afirmou que o PTB recebeu recursos do PT para a eleição municipal de 2004, mas que o Roberto Jefferson não sabia da origem ilícita dos recursos.
“O PT por
cuja direção nacional celebrou esse ajuste para o PTB para a eleição municipal
de 2004 [...], transferiu dos 20 ajustados, quatro em dinheiro. Este fato, do
recebimento, é alvo de duas imputações criminosas: lavagem de dinheiro e
corrupção passiva.”
“Não pode haver crime de lavagem de dinheiro sem a
ciência prévia do agente recebedor de que se trata de dinheiro sujo. Quem
entregou foi o Partido dos Trabalhadores, por um preposto? Sim. Mas é de supor
por este fato de que há algum ilícito? Não”, argumentou o defensor.
Segundo o advogado, não é possível vincular o
dinheiro recebido pelo PTB para saldar dívidas da campanha de 2004 com
pagamentos em troca de apoio político. Ele destacou que a reforma da
Previdência, projeto que enfrentava dificuldades para ser aprovado, só foi
votado um ano depois.
“Não era possível vincular-se o que aconteceu um
ano antes, na eleição municipal, com votação do projeto de lei que trata da
previdência.”
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